terça-feira, 19 de julho de 2011

Um dia

"Bem sei que já murmuraram
em teus ouvidos ausentes
as palavras que murmuro
carregadas de silêncio

Bem sei que vozes estranhas
cantaram dentro de ti
como marulho do mar
no surdo bojo dos búzios

Bem sei de tudo
e que todos que já buscaram teu corpo
são apenas como loucos
à porta de teu mistério

Um dia, quando as ressonâncias em ter ser se calarem
E não mais brilharem estrelas em tua noite esquecida
ás de ver que familiar dos bairros de teu destino
já penetrei em teu ser e moro pra sempre em teu sentido."

Cais da eternidade

O Jogral e a Rosa


Trago sempre uma rosa
De ternura e solidão
Rosa triste, rosa alegre
Rosa feita de ilusão
Ai de mim se esta rosa
Desfolhar-se pelo chão
Vaga rosa, meu destino


Minha rosa de saron

Cais da eternidade

Autopsicografia

"O poeta é um fingidor. 
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor 
A dor que deveras sente. 

E os que lêem o que escreve, 
Na dor lida sentem bem, 
Não as duas que ele teve, 
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda 
Gira, a entreter a razão, 
Esse comboio de corda 
Que se chama coração."


Fernando Pessoa